terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bisfenol A vai ser banido de embalagens de produtos alimentícios


O debate sobre o bisfenol A (BPA), uma substância presente em plásticos e embalagens que é nociva para nossa saúde, esquentou no mundo. Três grandes empresas alimentícias - a Nestlé, a Heinz e General Mills - anunciaram recentemente que vão banir o bisfenol A de suas embalagens.
No Brasil, por enquanto, apenas a Nestlé divulgou que pretende eliminar a substância em até três anos. Apesar de todas estarem de acordo com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que determina que o limite de 0,6 miligrama de BPA por quilo de embalagem, as companhias assumiram esse compromisso em razão das manifestações contrárias ao uso do bisfenol - ele já foi banido em países como França e Dinamarca -, e das recentes pesquisas que mostram que ele pode causar sérios problemas de saúde.
Embora a Anvisa e o FDA (Food and Drug Administration) afirmem que os níveis encontrados nas embalagens (0,6 mg/kg) seja segura, a preocupação se justifica.
Os fabricantes, em sua defesa, dizem que o componente é completamente eliminado pela urina, sem alcançar a corrente sanguínea. Do outro lado, porém, estão os pesquisadores que estudam o impacto dessas substâncias na vida das pessoas. Para eles, não existe nível seguro.
Um estudo publicado por pesquisadores japoneses, por exemplo, mostra que o bisfenol A passa da placenta da gestante para o feto. A pesquisa mostrou ainda que o fígado do bebê não é capaz de processar essa substância. O estudo foi realizado com roedores. Segundo os cientistas, o sangue materno e os vasos do feto, nos animais, são separados por duas camadas. No caso do ser humano existe apenas uma, o que levou a equipe a acreditar que isso pode ser ainda mais perigoso. 
Várias pesquisas mostram ainda que ele poderia provocar câncer, influenciar na má formação dos órgãos masculinos do feto e ser um dos responsáveis pela puberdade precoce em meninas (o componente imitaria o hormônio feminino estrogênio), e até causar hiperatividade. As pesquisas indicam que o risco seria maior em crianças, porque elas são mais frágeis a esses malefícios. O perigo mais comum é o uso de mamadeiras com a substância.
Não é pelo contato direto com a nossa pele que a substância entra no organismo. Ela é liberada quando o alimento está armazenado em um recipiente feito com bisfenol A. Quando o plástico é aquecido – como no microondas – a liberação é ainda maior.
O último estudo publicado, da Faculdade de Saúde Pública de Harvard (EUA), analisou por uma semana o nível de bisfenol A na urina de 77 participantes que tomaram líquidos em garrafas plásticas. O aumento da concentração dessa substância chegou a 69%, considerado um nível alto.

Bisfenol no mundo
No Brasil, a discussão passa despercebida pela maioria da população. O Ministério Público Federal instaurou um inquérito para apurar os riscos da substância este ano, mas ainda não houve nenhuma mudança na legislação. Já nos Estados Unidos, há mais informação. A procura dos consumidores por mamadeiras com plásticos feitos sem bisfenol A é grande. Por isso lojas infantis adotaram a venda de produtos livres da substância como estratégia de marketing. Esse é o caso da Baby “R” Us que anunciou que só comercializa produtos BPA-free. Nem todas as lojas, no entanto, seguem essa tendência: as britânicas Mothercare e Boots, por exemplo, continuam vendendo produtos com bisfenol A em suas lojas presentes em vários países.
O bisfenol A foi banido no Canadá, na França, na Dinamarca, na Costa Rica e em alguns estados dos Estados Unidos, como Vermont e Minnesota. Na França, o governo estuda a possibilidade de obrigar as empresas a informar se a substância está presente em recipientes de alimentos.
O que você deve fazer
Não pense no quanto você já esquentou a mamadeira, por exemplo, foque no futuro. Substitua o plástico por opções sem bisfenol A (a informação vem na embalagem) ou pelo vidro. Sim, são mais caros, mas valem a pena. Se você não conseguir encontrá-los, já que no Brasil a oferta ainda é modesta, compre plásticos de números 3 ou 5 (a informação vem no fundo da embalagem), que tem menos bisfenol A. Esterilize do jeito você fazia. Depois que a mamadeira esfriar, lave-a em água corrente e seque. Esquente o alimento em outro recipiente e só depois coloque no plástico pois, assim, a transferência de bisfenol A é menor. “Quanto melhor a qualidade do plástico, menor a transferência. Mas mesmo assim não estamos imunes”, diz o médico Paulo Saldiva, chefe do Laboratório de Poluição da USP-SP e um dos maiores especialistas em substâncias nocivas à nossa saúde.
 
Já encontro mamadeiras sem bisfenol A?
Sim, já existem mamadeiras sem bisfenol A, mas dificilmente são encontradas. Grandes empresas do ramo prometem que dentro de 6 meses os pais vão achá-las com mais facilidade. Outra opção é a de vidro.

Quando aquecido, o plástico libera uma quantidade maior de bisfenol A. Devo esterilizar as mamadeiras menos vezes ao dia?
Não é necessário. Basta lavar a mamadeira em água corrente depois de fazer a esterilização.

Quanto tempo o alimento quente pode ficar dentro desse plástico?
No caso dos alimentos, é melhor colocá-los em recipientes de vidro ou então servi-los em pratos de porcelana ou os que não tenham bisfenol A. Se for líquido, não deixe o volume lá dentro por muito tempo - como na hora de preparar a mamadeira da noite com antecedência. Faça a mamadeira e sirva na hora.

E nos berçários: como garantir que eles não aqueçam o líquido dentro da mamadeira?
Infelizmente, não dá mesmo para contar com esse tipo de garantia. Se o bebê não rejeitar o alimento frio, é melhor pedir para servi-lo sem aquecer. Quanto menos calor, e quanto menos tempo o alimento permanecer na mamadeira, melhor.

O plástico do bico da chupeta também é prejudicial?
Não. Esse tipo de plástico é mais duro - e o que daria flexibilidade a ele é o bisfenol A.


Fontes: Anvisa; Fernando Goulart, pesquisador tecnologista em qualidade do Inmetro, no Rio de Janeiro (RJ); Silvana Rubano B. Turci, responsável pela área de vigilância do câncer relacionado ao trabalho e ao ambiente do Inca.

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